Naquela tarde, sentada junto ao mar, sentindo o vento gélido no meu rosto e a fúria do mar junto aos meus pés, tentava desesperadamente que os ponteiros do meu relógio recuassem, enquanto o pensamento teimava em arrastar-me pelas memórias, mas não permitindo que eu acedesse às mais longínquas.
Conseguia ver o nascer do sol como naqueles dias, enquanto o seu calor me aquecia a pálida pele, e recordava os dias em que vi a lua subir bem alto no céu a iluminar-me o rosto. Sentia a frescura da água salgada na minha pele quente, parecia-me ouvir as nossas gargalhadas simultâneas contrastando como silêncio da noite. Por momentos, consegui sentir o cheiro suave e adocicado da limonada fresca…
Voltei a olhar para o relógio e senti uma onde de saudade invadir-me, causada por toda aquela nostalgia e um traço de tristeza surgiu-me no rosto.
Fui, num ápice, completamente arrastada até ao presente por uns suaves salpicos que se precipitavam do céu e molhavam delicadamente o meu rosto.
Fiquei estática e, por fim, acabei por descobrir que, por mais que desejasse que o tempo parasse, ele seria sempre incontrolável e continuaria a correr velozmente e sempre na mesma direcção.
Sentia, agora, que aqueles salpicos libertavam o meu pensamento e acabei por pressentir um ligeiro sorriso despertar no meu rosto.
Depois daquela poderosa sensação de liberdade acabei por sentir-me puramente feliz, simplesmente por todos aqueles momentos terem acontecido e pelas memórias que deles ficaram serem incontestavelmente felizes.
Dei por mim a rir espontaneamente ali sozinha, levantei-me e parti.
Érica
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